sábado, 24 de janeiro de 2015

O “custo emocional” de um tratamento de fertilização in vitro (FIV)


Hoje o sabadão já começou agitado logo cedo no trabalho, pois minha assistente faltou por problemas de saúde e tive 4 pessoas da equipe que faltaram, ou seja, fiquei sozinha e na maior correria, mas deu tudo certo. Só um pouco cansada.
Para não esquecer a medicação, já coloquei o alarme do celular e a agenda sincronizados, porque quero fazer tudo direitinho (se bem que no segundo dia, esqueci de tomar a Primogyna na hora do almoço e tomei duas à noite, espero que não dê nada...).

Precisaria muito terminar um trabalho para entregar na segunda, mas estou sem cabeça para pensar em assuntos técnicos, ainda mais que já trabalhei desde cedinho e fico na expectativa do tratamento.

Acho que só quem passa por isso consegue entender esta ansiedade, uma vontade de que tudo dê certo e da consciência de que outras batalhas virão, mas esta fase tá demorando tanto, viu?!
Neste tipo de tratamento, pensamos muito – e nos organizamos – para bancar os custos financeiros do processo, mas esquecemos do “custo emocional” de tudo, o que é tão alto quanto, principalmente para a mulher.

Não podemos dizer que não há para o homem, mas a mulher sofre por uma pressão interna que pode ser massacrante e leva à padecer por uma culpa que não é sua.
Pensamos “Por que não consigo engravidar?” ou “Por que muitas mulheres que não querem conseguem e eu não engravido?” e até mesmo “O que eu tenho de errado?” que é o pior quando todos os exames mostram que está tudo certo com o casal.

Baita angústia. Nó na garganta e coração apertado. Medo de que nunca dê certo e então seja necessário partir para a adoção. Não vejo isso como algo ruim, mas já sei que meu marido não topa, o que para mim é um problema.
Como escrevi no começo deste blog, criei este espaço para compartilhar as angústias com vocês e isto é o que me pegou hoje. É a sensação de impotência, misturada com a esperança da ajuda da ciência, a vontade de fazer dar certo e o medo de não poder fazer nada.


Já passei por uma grande frustação quando a primeira FIV não deu certo, vivi o “luto” por mais de um ano até retomar tudo e hoje me sinto mais forte e preparada para outro negativo e ainda assim continuar em frente até conseguir.

Realmente o tratamento para fertilização é composto de diversas batalhas, que vamos vencendo uma a uma. A primeira é a grande bateria de exames (alguns bem chatinhos como a histerossalpincografia e no meu caso, teve até a videolaparoscopia), depois quando começamos o tratamento, tem a bateria de remédios e injeções (a primeira aplicação sozinha ninguém esquece), aí tem a luta para conseguirmos o número satisfatório de óvulos maduros (porque não é só gerar um monte de folículos, como foi o meu caso, cerca de 30, mas devem ter qualidade), para na sequência do dia seguinte saber quantos foram fecundados (quantos evoluíram e qual a qualidade), para depois passar pela transferência dos embriões, até passar pelos longos dias até poder fazer o Beta e ter o resultado.

Ufa!  Lendo assim parece bastante, imagine viver isso mais de uma vez e ainda ter que aguentar a pressão do resultado. No meu caso, optamos por não ter acompanhamento psicológico e também não contar para ninguém. Ficou um segredo meu e do meu marido. Falamos sobre isso e tento não ser paranoica. Apesar de pensar no assunto muitas vezes por dia, não falo nada porque ele pode se irritar e sabe como homem é... no caso dele, sei que pode espanar. Melhor não tocar no assunto e fingir que estou segurando bem a onda. Ele tem sido super fofo, muito mesmo, mas este blog ficou como me segredo, minha válvula de escape.

Tá uma loucura na minha cabeça nervosa, mais por fora, tudo ótimo. Esta frase do Freud resume bem o sentimento:

Realmente é um grande stress e queria compartilhar aqui neste espaço. Mesmo que ninguém comente, isso me acalma a alma e tira o aperto do coração. Me sinto muito sozinha...
Sei que tudo isso pode afetar o casal e tento manter sempre relações com meu marido com frequência (às vezes não dá pelo cansaço do dia a dia ou até da medicação), mas é importante que ele continue se sentindo desejado e avaliando a situação como se nada tivesse sido alterado por causa do tratamento. Assim ele não vai se achar apenas o macho reprodutor ou pensar que a fissura na ideia de engravidar me tornou uma pessoa compulsiva.

Tá, lá no fundinho, sei que estou um pouco com este pensamento fixo, mas como homens e mulheres reagem de forma diferente, vou me esforçar muito para isso não gerar conflitos no casamento.
Realmente não sei se é melhor contar para familiares e amigos sobre o tratamento ou ficar entre o casal, porque depois que não dá certo, ficar dando satisfação ou ver a cara de dó das pessoas, realmente não quero. Gente, este realmente é um desabafo, um texto bem confessional e um pouco diferente dos demais quando faço postagens mais técnicas para esclarecer o que o médico fala em cada uma das etapas do tratamento e resultado daquela pesquisa básico no Dr. Google. Hoje foi mais para colocar em um texto a transcrição destes sentimentos que nos rondam...


É isso, para quem já passou, a FIV é um mix de emoções, uma montanha russa. Para quem ainda vai passar, a força e perseverança devem prevalecer, acima de qualquer momento difícil do tratamento. Sabemos que, depois de concretizado o nosso objetivo e conseguirmos engravidar, ainda virão muitos e muitos outros desafios. Como diz o ditado popular, “ser mãe é padecer no paraíso”. Um ótimo final de semana a todas!

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