Pois então chegou o dia tão esperado! Foi um sábado e na
sexta à tarde tentei ficar calma. Fui até a loja resolver problema da piscina
da casa nova que estamos construindo, depois descansei um pouco, fiz a revisão
da mala de maternidade e passei o restante do tempo esticada no sofá. Meu
marido ficou mais tenso e eu não senti tantas contrações doloridas como vinha
sentindo nos últimos dias. Aliás, a barriga cresce muito nas duas últimas
semanas, é incrível!
No sábado acordamos de madrugada porque a recomendação era
para chegar às 6h30. Tomei um banho acariciando a barriga já para me despedir
dela. Pegamos um táxi para facilitar e parecia que eu estava de mudança com
tanta mala que levei! Logo depois do cadastro de internação, fui ao quarto e
tentei relaxar, mas quando apareceu a enfermeira com a maca, meu coração
acelerou e eu tive uma crise de riso nervoso, isso acontece sempre nos momentos
tensos. Fico “rindo de nervoso”, como dizem lá no interior onde nasci.
Segui para a sala de cirurgia e meu marido ficou em uma sala
ao lado, ainda no centro cirúrgico para colocar aquela roupa que evita
contaminação. A anestesista era muito simpática, logo vieram colocando o acesso
no braço e a picadinha dói um pouco. Passam o líquido gelado nas costas para a
limpeza, posição de índio com as costas curvadas e lá vai a picada da anestesia
na coluna. Não dói lá essas coisas, muito suportável, pois o que pega mesmo é o
nervosismo e a ansiedade que a gente não liga muito para esta parte.
Me deitaram e as pernas começaram a formigar, apesar de
ainda senti-las. Senti quando colocaram a sonda, que é meio chatinho e, como as
pernas estão na posição “de borboleta” para a sonda nesta momento inicial da
anestesia, o engraçado (mas nem cômico) é que esta foi a memória que ficou
durante todo o parto. Parecia que minhas pernas estavam dobradas o tempo todo e
eu não via a hora de sair daquela posição, mas na verdade não estava. Vi isso
quando acabou o parto e, durante a limpeza, colocaram minha perna lá no alto,
perto da luz e parecia uma “perna alheia”... kkkkk
Logo depois da sonda, senti minha pressão cair, acho que era
a ansiedade, mas a anestesia fica conversando conosco e monitorando o tempo todo.
Eu disse que estava nervosa e o médico disse que nem precisava comentar porque
ele estava vendo no aparelho de monitoramento cardíaco.
Ah, esqueci de comentar: como meu parto era de risco por
causa dos miomas, foram dois médicos: minha obstetra e o pai dela que é um dos
médicos responsáveis pela clínica, extremamente experiente. Para quem lembra,
tenho 14 miomas no total, sendo 3 gigantes (cerca de 10cm de diâmetro cada,
maiores que uma laranja) e um outro que está bem na parte de trás do útero, que
surgiu durante a gravidez, um pouco maior que estes ainda! Sem esquecer do mioma
“malvado” que também surgiu na gravidez e tive que fazer uma cirurgia em maio
porque eles estava saindo do útero e gerando sangramento, com um pólipo junto.
A notícia ótima é que nada disso afetou e o parto foi bem tranquilo. Só perdi
um pouco mais de sangue que o normal, mas não precisei de nenhum outro
procedimento.
Mas aí vem a parte mais emocionante: depois que testam se
anestesia fez efeito (quando perdemos a sensibilidade das pernas e barriga),
começam a cortar com o bisturi elétrico, vem aquele cheirinho de queimado e
chamam o marido. Ele entrou e eu estava com a tradicional “cara de coruja” com
os olhos arregalados e um pouco assustada, não sei explicar o porquê, acho que
é um momento tão esperado que ficamos atônitas pelo misto de emoções.
Alguns segundos depois ouvi o choro e meu coração disparou.
Ouvi os médicos dizendo: “Que meninão” e então nos mostraram nosso bebê... Tão
emocionante que chorei e fiquei paralisada ao mesmo tempo... Eles só mostram e
vão lavar. Alguns minutos depois voltam com ele, já com a touca e embrulhadinho
para as fotos, é muito emocionante, não dá para explicar. É bem rápido tudo isso
que só dá vontade de sair dali logo para segurar o bebê. Mas infelizmente demora
um pouco. O marido sai e eu fiquei lá para ser costurada. Demora um pouquinho e
dá aflição. Assim como sentimos uma “pressão” quando vão tirar o bebê, dá para
sentir que estão mexendo para fazer os pontos, nada de dor, só uma sensação
estranha.
Quando tudo isso terminou, ainda com as pernas anestesiadas,
a enfermeira me levou pelo corredor e pude ver no berçário o meu bebê, lindo e
sereno... no outro lado do vidro, meu marido chorando muito, minha mãe, meu
irmão e minha cunhada. Eu comecei a chorar e estava com o nariz já entupido, fiquei
agoniada sem respirar e queria levantar para pegar meu filho, mas me levaram
rapidinho para o quarto e logo o trouxeram para a primeira mamada.
Foi meio desajeitada, mas é uma sensação maravilhosa de
plenitude e realização. È a natureza e o instinto em ação, a emoção aflorando e
as expectativas se concretizando. Não vou dizer que sai leite na hora – e depois
até contarei meu dilema com a amamentação – mas poder abraçar aquele ser tão
indefeso e tão perfeito é o ápice da nossa existência.
Acho que é isso, tem tantas outras histórias que gostaria de
contar, mas o momento do parto foi assim... ficará na minha memória e marcado
no coração como a maior realização da minha vida!!!